O Brasil vai duplicar a sua população idosa em aproximadamente 20 anos. Enquanto países desenvolvidos, como a França, levaram mais de 100 anos gerando acúmulo de riqueza para organizar a sociedade e atender essa demanda, nós de maneira desordenada alcançamos os mesmos números.

O aumento da expectativa de vida é fruto de muitos avanços da saúde, como redução da mortalidade infantil, redução da taxa de fecundidade, além da introdução de novas tecnologias em saúde que permitiram reduzir a taxa de mortalidade de inúmeras doenças.

O envelhecimento populacional é acompanhado de um acúmulo de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), como doenças cardiovasculares, pulmonares e oncológicas. Entretanto, a velocidade com que o Brasil aumento a sua proporção de idosos, somados a sua desigualdade social, faz com que vivamos uma epidemia de doenças crônicas, ainda tendo que enfrentar problemas de doenças infecciosas e mortes de causa externa, gerando uma tripla carga de doença sobre o sistema de saúde.

Antigamente, as famílias eram numerosas e o cuidado das pessoas idosas eram de responsabilidade de um ente familiar. A redução da taxa de fecundidade e a redução do número de integrantes da família faz com que pessoas que necessitem de cuidados, não tenham a quem recorrer gerando uma síndrome de insuficiência familiar e necessitando de cuidadores profissionais.

Esse cenário de crise no sistema de saúde, envelhecimento populacional crescente e famílias nucleares nos obrigam a pensar em medidas para melhorar a saúde (individual, e por conseguinte, coletiva) a longo prazo.

O envelhecimento é um processo complexo, inexorável e heterogêneo, mas seguindo alguns pilares, conforme descritos pelo Dr Kalache, podemos aumentar a probabilidade de termos um envelhecimento bem-sucedido, estendendo o nosso tempo de autonomia e independência.

Pilar 1: Saúde

Estima-se que 80% das DCNT poderiam ser prevenidas com hábitos de vida saudáveis. Portanto, cuidados com a alimentação, peso e atividade física devem ser incentivados desde a primeira infância. A capacidade funcional atinge seu pico no início da fase adulta, seguindo um declínio progressivo secundário ao processo de envelhecimento, portanto tudo que acumulamos antes dessa fase impactará no nosso envelhecimento. Porém, ainda que durante fases mais precoces de vida não se tenha tido todo o cuidado necessário, estudos demonstram que mesmo na terceira idade ter esses cuidados com escolhas desses hábitos melhora a qualidade de vida. Aqui, não podemos esquecer da saúde mental e social que também tem impacto direto no processo de envelhecimento.

Pilar 2. Aprendizagem ao longo da vida.

Aprender não só com a educação formal, como de maneira autônoma ao longo da vida, incluindo atividades que não sejam laborais, é de extrema importância para a saúde cognitiva, mental e social.

Pilar 3. Participação social

Aliado ao processo de envelhecimento vem também a fase de aposentadoria, cuja definição primordial diz respeito à “ir para os seus aposentos aguardar o final da vida”. A revolução da longevidade faz com que a aposentadoria seja um momento de novas atividades e seguir com participação ativa em questões familiares e da sociedade são igualmente importantes para o envelhecimento bem sucedido;

Pilar 4. Segurança

Esse pilar traz o conceito tanto de segurança a pessoa, com relação a crimes, quanto a questões de abandono ou ainda segurança financeira para ter as suas necessidades atendidas.

O investimento no envelhecimento bem-sucedido é papel tanto do indivíduo quanto do coletivo. Assim, teremos um aumento da expectativa de vida, atrelada a ganho de anos de vida com saúde, autonomia e independência física.

Virgílio da Rocha Olsen
Médico, Geriatra Cremers 39259
Chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre
Professor adjunto e supervisor do programa de residência médica de Geriatria UFCSPA
Superintendente médico do Grupo DOC.