'Neste mês, fomos todos tocados pela catástrofe que atinge nosso Estado.
Vítimas diretas sofrem pela perda da casa, do trabalho, da rotina da vida, do ente querido. Socorristas e voluntários sofrem pela dor do outro, por acompanhar de perto e repetidas vezes, a tragédia, a destruição, o desespero. E para aqueles não estão diretamente envolvidos, testemunhar esse evento também pode ser avassalador. Estamos invadidos por tristeza, impotência e culpa. São emoções comuns e que fazem parte do impacto psicológico de eventos traumáticos.

A capacidade de sentir afeto e conexão é inerente à nossa natureza humana. Nós nos desenvolvemos e nos tornamos sujeitos através do cuidado, dos laços afetivos, do reconhecimento e da validação. Desde que nascemos, somos cuidados e também aprendemos a cuidar dos outros. A emoção da compaixão, de compartilhar o sofrimento alheio, surge dessa habilidade de cuidar e do reconhecimento das diversas experiências da vida, incluindo dor, frustração, falhas e imperfeições. É através dessa compaixão que estamos solidários com o sofrimento de todos os afetados pela enchente no RS.

E quanto à nossa compaixão por nós mesmos? A autocompaixão é a capacidade de reconhecer nossa própria dor emocional e sofrimento, identificar os sentimentos e oferecer a nós mesmos palavras de conforto, substituindo a autocrítica por compreensão e bondade.

* O primeiro passo para lidar com esses sentimentos é reconhecer que estamos tristes, impotentes ou culpados. É importante ser gentil consigo mesmo e entender que é normal sentir-se assim. Não devemos nos culpar por coisas que estão além do nosso controle. Além disso, conversar sobre o que estamos sentindo com outras pessoas pode ajudar a aliviar o peso emocional que carregamos. É essencial também dedicar um tempo para realizar atividades que nos tragam bem-estar e prazer. E agir dentro das nossas possibilidades nessa corrente de solidariedade. Doações, apoio emocional, conscientização e divulgação são formas significativas de contribuir, que nos proporcionam um senso de propósito, pertencimento e alívio emocional. Se a dor emocional estiver muito intensa, é fundamental buscar ajuda psicológica, pois é um ato de autocuidado.

- Com essas atitudes, estamos preservando nossa saúde mental. Com aceitação, força e resiliência, vamos cicatrizar as feridas e superar esse período de crise.'

ROSÂNGELA COMPARSI
Psicóloga e RT do Serviço de Psicologia do Grupo DOC
CRP 07/06772